11 de novembro de 2011

Não-Repressão


Tem algumas características sociais que são tão impregnadas em mim e ao meu redor que chego a achar que são universais, humanas. É preciso vir alguém meio "de fora" para mostrar que existem outras possibilidades. Isto me aconteceu recentemente com um livro que fala sobre uma sociedade com uma filosofia pouco vinculada a uma cultura de guerra - quase oposta à nossa européia.

"Olho por olho, dente por dente". A estupidez desta filosofia é óbvia, e ainda assim é muito difícil sair dela quando o mundo está, de fato, acontecendo. Quando estamos diante de uma possibilidade de sofrimento, o caminho mais fácil para nossa mente adestrada é reprimi-la. Usamos de força física, verbal ou de nuances mais sutis e mentais para impedir o fluxo da ação por um caminho - sem nos darmos ao trabalho de redirecionar aquilo para algo diferente. Algo que não simplesmente interrompa o caminho das coisas.

Combatemos uma violência com outra. Por mais que a nova seja num nível mais sutil, ainda assim é algo no mínimo sem muito potencial construtivo.


Compartilho abaixo o trecho do livro "Eu me Lembro..." que me fez refletir em como existem soluções alternativas para as nossas situações de sofrimento. Afinal, que situação mais icônica para ilustrar a naturalidade com a qual reprimimos a nós e aos outros do que uma criança querendo colocar a mão no fogo?
"Lembro-me da cozinha, o lugar mais aconchegante da casa. O que eu mais gostava era da proximidade com o fogo e do cheiro bom da comida. Quando era menor, um dia quis tocar no fogo e minha mãe me ajudou nessa aventura. Ela me disse:
O fogo é muito tímido e quando você tenta segurá-lo ele foge. Mas também é nervoso como o corvo. Se você segura um corvo pelo pé, ele lhe dá uma bicada. O fogo também faz isso. Então, você não pode ficar muito tempo com a sua mão tentando segurá-lo. Você tem que tentar pegar e tirar a mão depressa.

E assim, aprendi a tocar o fogo sem me queimar."
Capítulo "A cozinha da nossa casa", livro "Eu me Lembro".

Percebam que a mãe, ao invés de alertar, criticar, ou impedir o comportamento potencialmente destrutivo do filho, aproveitou a oportunidade para educá-lo. Ao invés de reprimir, conduziu. Isso dá muito combustível para reflexão. Imagino se conseguisse me comportar mais como a mãe desta criança em relação aos meus medos e inseguranças, quanto avanço a mais não iria alcançar? E quanta beleza pode ser vista no mundo inteiro quando me comporto assim também com ele!

A lição mais forte disso que ficou pra mim é muito simples: há uma outra forma de pensar o mundo, e ela pode ser melhor do que a minha.

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Foto por ~violetztarz
Página para download do livro "Eu me Lembro..."

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