13 de julho de 2013

Kerbal Space Program



Em um momento de reflexão, certa vez, elegi duas tecnologias humanas que me davam mais orgulho de participar da humanidade no seu momento atual: o ônibus espacial e o computador.

Mesmo que o pobre do space shuttle tenha sido aposentado, em parte por ser tão complexo a ponto de ser inviável mantê-lo, continuo achando uma coisa incrível o ser humano ser capaz de enviar um veículo (com gente!) para um ambiente tão belo e hostil quanto o espaço... voltar e pousar sozinho!

Voltando algumas décadas na tecnologia, ainda me espanto com a complexidade e beleza das artimanhas necessárias para fazer um "simples" foguete capaz de ir à lua. Me vêm à mente filmes e séries que me marcaram muito como From the Earth to the Moon, Apollo 13, October Sky, entre outros tantos.

No entanto, assim como o interesse global pelo assunto, o meu interesse também caiu e eu mal lembrava que o curtia tanto, até que...

KSP: Meet the Kerbals!
...conheci o Kerbal Space Program!

Ele é, como o nome sugere, um simulador de programa espacial, no qual você é encarregado de desenhar e construir foguetes e aviões espaciais para depois pilotá-los rumo ao espaço, levando seus adoráveis astronautas verdinhos.

Mesmo não possuindo objetivos fixos, qualquer jogador iniciante vai certamente querer fazer as manobras mais básicas: sair da atmosfera com um foguete, entrar em uma órbita estável, viajar para a lua, quem sabe até pousar na lua. Ao tentar executar qualquer uma destas tarefas, certamente vai descobrir que não é tão simples quanto parece.

Neste processo de aprendizado do funcionamento das manobras básicas o jogador acaba naturalmente passando por diversas grandes descobertas a respeito da física dos astros, praticamente revivendo o que provavelmente os milhares de cientistas tiveram de aprender durante os programas espaciais do nosso próprio planeta Terra. Foram várias e várias teses de doutourado e PhD para a humanidade conseguir algo tão básico quanto fazer duas naves se encontrarem em órbita.

De alguma forma, os designers do jogo conseguiram inserir toda esta complexidade imensa da ciência aeroespacial para os hardcore gamers, mas de uma forma que quem quiser simplesmente sentar, jogar e experimentar aleatoriamente coisas também pode se divertir - e muito!

Trailer do jogo feito por um fã. Se possível, assista em tela cheia.

Comunidade

O KSP foi lançado nos mesmos moldes do Minecraft, que já expliquei antes aqui no blog: os desenvolvedores (mexicanos!) fizeram uma versão inicial com várias partes faltando e os jogadores mais interessados pagam com um desconto para entrarem antes mesmo de terem o jogo completo.

Numa sacada muito inteligente, eles também fizeram o jogo altamente manipulável pelo usuário, favorecendo o surgimento de uma comunidade enorme de modders e plugins e impulsionando o jogo a crescer muito mais e mais rápido do que seria possível se fosse desenvolvido apenas pela Squad.

Além disto, entusiastas do ramo aeroespacial, especialistas e astrônomos passaram a se juntar à comunidade e abastecê-la de textos, explicações sobre astronomia e até mesmo centenas de vídeo-aulas, como o lendário Scott Manley.

Versão Grátis

O jogo completo, em sua fase beta, está custando US$23 ( R$ 45 no Steam ), mas eu sinceramente não recomendo começar por ele por um motivo bem simples: é completo demais!

A quantidade de peças disponível para construir os foguetes é enorme, a quantidade de planetas e luas no sistema solar também, e isto acaba confundindo mais do que ajudando na hora de aprender o básico. A versão demo tem tudo o que você precisa para se divertir e debater com os diversos desafios das primeiras muitas horas de jogo.

Caso goste do estilo, a compra virá naturalmente pela vontade de experimentar novas possibilidades de foguetes, aviões espaciais e manobras mais complexas.

Dicas para iniciantes

Definitivamente este não é o tipo de jogo em que você senta pela primeira vez, aperta algumas teclas e sai entrando em órbita por aí. Existe uma curva de aprendizado inicial que o tutorial para iniciantes até que ajuda um pouco, mas ainda deixa a desejar.

Se você não tiver interesse em mergulhar em testes empíricos (ou matemática) para estudar a gravidade e atmosfera do planeta Kerbin ( planeta natal dos adoráveis alienígenas do joguinho ), existem diversas vídeo-aulas muito boas no Youtube, dentre as quais destaco uma simulação do vôo da Apollo 11 (vídeo de 45 minutos) feita pelo astronogamer Scott Manley com os recursos da versão demo.

Re-encontro com a beleza dos astros

Depois de começar a jogar KSP e ver quão difícil é, de fato, a tal rocket science, eu recuperei a admiração que sempre tive pela indústria espacial e, especialmente, pelos pioneiros dos programas espaciais. É MUITO difícil! Realmente, ser astronauta não é pra qualquer um e este jogo dá uma bela noção disto.

Além da parte humana da coisa, eu me pego ultimamente contemplando muito a beleza dos astros, parando para olhar a lua, as estrelas e lendo coisas sobre os planetas do nosso sistema solar.

Fica mais e mais claro para mim que há muito mais coisa interessante para conhecermos lá fora, assim que conseguirmos arrumar um pouco mais nossa querida casinha aqui.

Finalizo com uma frase do autor de alguns dos melhores tutoriais sobre mecânica de órbitas da comunidade KSP, na qual ele fala sobre a beleza exótica do assunto:

There's real beauty in the way orbital mechanics work, it's a blend of chess and ballet.- Pebblegarden

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Links relacionados

Site oficial do jogo Kerbal Space Program ( baixe o demo grátis! )
Link para o jogo no Steam ( inclusive o demo )
Vídeo-aula de Scott Manley para a versão demo do KSP (45min)
Compilação de dicas para iniciantes no KSP - recomendado para quem já jogou e quer aprender mais, especialmente a parte de encontro de órbitas (rendez-vous)

Artigo sobre as características educacionais do KSP no Astronomy Aggregator
Subreddit do Kerbal Space Program
Kerbal Proof - ótimo agregado de links sobre KSP

Vídeo Trailer fan-made: "Build Fly Dream" (4min)
How hard can it be? Building a real rocket to space - engenheiros em um reality show tentando construir em apenas dois meses um foguete amador que alcance o espaço

14 de maio de 2013

Sobre o "Lá Ele"

Recebi por e-mail este estudo, este tratado sobre o "Lá Ele", uma expressão de vital importância para o convívio social na Bahia ( ou pelo menos em Salvador ).

Não sei quem é o autor, mas este texto é valioso demais e compartilho ele aqui.

** Update **
30/09/2013: Saiu uma reportagem sobre o dialeto das rimas e duplo sentido no Correio. Vale a pena conferir depois de ler o texto abaixo =)

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Sobre o "Lá Ele"


O "Lá Ele" é uma das mais importantes expressões do idioma baianês, mais especificamente do dialeto soteropolitano baixo-vulgar. Segundo os léxicos, a expressão significa "outra pessoa, não eu" (LARIÚ, Nivaldo. Dicionário de baianês. 3ª ed. rev. e ampl. Salvador: EGBA, 2007, s/n).

A origem da expressão é ambígua. Alguns etimologistas atribuem seu surgimento às nativas do bairro da Mata Escura, enquanto outros identificam registros mais antigos no falar dos moradores do Pau Miúdo. O certo, porém é que o "lá ele" desempenha papel fundamental em um dos aspectos mais importantes da cultura da primeira capital do Brasil - a subcultura urbana do duplo sentido.

Desde a mais tenra infância, os naturais da Soterópolis são treinados para identificar frases passíveis de dupla interpretação. Da mesma forma, os soteropolitanos aprendem desde cedo a engendrar artimanhas para que seu interlocutor profira expressões de duplo sentido.

Assim, as pessoas vivem sob constante tensão vocabular, cuidando para não fazer afirmações que possam ser deturpadas pelo interlocutor. Para indivíduos do sexo masculino, por exemplo, é vedado conjugar na primeira pessoa inocentes verbos como "dar", "sentar", "receber", cair", "chupar" etc. O interlocutor sempre estará atento para, ao primeiro deslize, destruir a reputação de quem pronunciou a palavra proibida.

Como antídoto para a incômoda prática, o "lá ele" surgiu como uma ferramenta indispensável na comunicação do soterpolitano. Assim, o indivíduo que falar algo sujeito a interpretações maliciosas estará a salvo se, imediatamente, antes da reação de seu interlocutor, falar em alto e bom som: "lá ele!"

Por exemplo, qualquer homem, por mais macho que seja, terá sua orientação posta em dúvida se falar "Neste Natal comi um ótimo peru". Contudo, se sua frase for "Neste Natal comi um ótimo peru, lá ele!", não haverá qualquer problema. No mesmo diapasão, confira-se:

(a) se um colega de trabalho enviar um e-mail perguntando "vai dar para almoçar hoje?", não se pode responder apenas "Sim"; deve-se responder "Lá ele. Vamos almoçar";

(b) se, na pendência do pagamento de polpudos honorários, um advogado perguntar ao outro "Já recebeu?", a resposta deverá ser "Lá ele. Já foi pago";

(c) ou, ainda, se alguém nasceu no citado bairro do Pau Miúdo, o que poderá transformar sua vida em um interminável festival de chacotas, deverá sempre valer-se da ressalva: "eu sou do Pau Miúdo, lá ele".

Para melhor compreensão da matéria, reproduz-se abaixo um exemplo real, ocorrido no último domingo durante a transmissão do épico triunfo do glorioso Esporte Clube Bahia sobre o Atlético de Alagoinhas:

- Locutor: "Subiu o cartão amarelo?"

- Repórter: "Subiu, o amarelo e o vermelho."

- Locutor: "Mas você está vendo subir tudo!"

- Repórter: "Lá ele!"

Note-se que o "lá ele" pode sofrer variações de gênero e número, de acordo com a palavra que se pretende neutralizar. Se, antes de uma sessão do TJBA, alguém perguntar "Você conhece os membros da turma julgadora?", deve-se objetar com veemência: "Lá eles!". Ou se o cidadão for à Sorveteria da Ribeira e lhe perguntarem "Quantas bolas o senhor deseja?", é de todo recomendável que se responda "Duas, lá ele, por favor".

Há também a situação de um homem contar uma piada, ou um caso, verdadeiro ou fictício, que se passou com uma mulher. Aí o "lá ela" é que será usado. Um exemplo disso seria "E lá pelas tantas a mulher disse: Se você não vier deitar agora, "lá ela" vai lhe buscar à força". 

A cultura duplo sentido oferece outros fenômenos da comunicação interpessoal. Veja-se, a título de ilustração, o sufixo "ives".

Em Salvador, não se pode falar palavras terminadas em "u", principalmente as oxítonas. Independentemente de sexo, idade ou classe social, o indivíduo poderá ser mandado para aquele lugar (lá ele). A pronúncia de uma palavra que dê (lá ela) rima com o nome popular do esfíncter (lá ele) será prontamente rebatida com a amável sugestão. Para fazer face ao problema, a vogal "u" passou a ser costumeiramente substituída pelo sufixo "ives".

Destarte, o capitão da Seleção de 2002 é tratado como "Cafives"; o Estádio de Pituaçu virou "Pituacives"; o bairro do Curuzu se tornou "Curuzives"; a capital de Sergipe passou a ser chamada de "Aracajives"; e as pessoas que atendiam pela alcunha de Babu, com freqüência utilizada na Bahia para apelidar carinhosamente pessoas de feições simiescas, há muito tempo passaram a ser chamadas de "Babives".

(*) comentário do leitor:

Acho que, antes de surgir o "ives", veio o "i", algo como jogar a pronúncia para o francês. Algo como ocorre com menu, que é pronunciado "meni". Do "i" para o "ives", foi uma questão de adaptar a fala.

30 de março de 2013

Negociações Políticas



Às vezes eu me pego meio perdido com algumas notícias a respeito de política.

Honestamente, eu penso: como isso pode acontecer? Como coisas tão escandalosamente erradas podem chegar a serem de fato concretizadas?

Entendo que esse tipo de pensamento possa acontecer, ser discutido e até defendido em alguns setores da sociedade, mas me assusta saber que ele possui tanto apoio ao ponto de chegar a virar uma realidade no governo!

Nestes momentos de confusão, acho muito bom ler textos que me expliquem, e me ajudem a compreender como funciona, de fato, a política nos bastidores. Ajuda a entender como funciona o próprio mundo mesmo. Desta vez o texto esclarecedor foi de Wilson Gomes, um professor da UFBa que teve o seu post-reflexão recompartilhado por Jean Wyllys no Facebook.

No final das contas, concluo sempre, estamos todos neste barco para aprender. Cabe a nós tolerância, trabalho e paciência. O mundo já foi bem pior do que está hoje, coisas ainda mais horrendas aconteciam nos bastidores e ninguém jamais descobriu. Agora é continuar trabalhando para melhorar - como sempre foi desde os tempos imemoriais.

Quer algo? Faça acontecer.


Compartilho na íntegra o texto do Gomes (link original aqui):